Análise de Redes Sociais para Mídias Digitais
- 31 de jul. de 2019
- 5 min de leitura
O que é? De onde vem e para que serve?
Como o título sugere nesse post falo sobre Análise de Rede, só que de um fragmento específico: das Mídias Digitais. Adentrei a esse campo há pouco mais de um ano, sendo assim, vou tecer aqui algumas linhas do que fui apre(e)ndendo.
Não sei se é sabido d@ leitor@, mas minha primeira formação é em ciências biológicas, acho que isso já diz bastante sobre meu entusiasmo para compreender a relações entre elementos e a Análise de Rede é justamente isso!!! A base da Análise de Rede traz uma perspectiva de que ao se compreender como os elementos de um conjunto se relacionam/estão ligados entre si seja possível extrair mais informações. Os exemplos são inúmeros desde a biologia, ecologia, relações entre políticos e empresas que financiam campanhas, pessoas de uma região da cidade a sua religião, mobilidade urbana, etc.
Diversos campos da ciência se valem da Análise de Rede como pressuposto teórico-metodológico que possibilita o entendimento de relações de similaridades e diferenças, proximidades, agrupamentos e os processos. Um conjunto de dados volumosos e complexos tendem a se tornar mais compreensíveis, sobretudo com as visualizações (e que hoje são lindíssimas).
Já a Análise de Redes Sociais (ARS) – Social Network Analysis é um campo de interação entre Análise de Redes com as ciências humanas. Uma narrativa (forma de contar) da história do campo apresenta que foram White; Boorman; Breiger (1976) que desenvolveram métodos sociométricos e, assim, propuseram avanços na discussão do uso da técnica do sociograma proposta por Jacob Moreno (1953) do clássico estudo de Rede Dinning Table (HIGGINS; RIBEIRO, 2018; RECUERO, 2017).
Para quem não conhece o estudo Dinning Table nos textos que cito como referência trazem tudo beeeeem explicado, mas, de forma sucinta Jacob Moreno (1889 – 1974) buscava analisar a organização de grupos de indivíduos, bem como suas posições, atrações, rejeições e, assim, fazia inferências sobre os papeis sociais. O referido estudo foi construído a partir de uma pergunta simples, em um internato, coletando dados entre os anos de 1931 e 1938, a questão era: “Ao lado de quem você gostaria de sentar na mesa de jantar?”.

Os sociólogos de Chicago, Elton Mayo e colaboradores, na mesma época, fizeram um experimento antropológico para entender as interações de trabalhadores de uma fábrica. O estudo foi transformado em uma rede por George Homans. Outro exemplo é do experimento sobre a ideia do “mundo pequeno” de Stanley Milgram, esse bastante famoso. Por último (porque já me empolguei), cito o exemplo de um estudo recente e que foi meu primeiro contato com Análise de Redes Sociais (em uma palestra na UFSCar), feita por Luiz Alves, pós-doutorando no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP), um dos resultados é o artigo The dynamical structure of political corruption networks (A estrutura dinâmica das redes de corrupção política). Na pesquisa, Luiz Alves, levantou dados de escândalos de corrupção midiatizados de 1987 a 2014.
Depois dessa breve contextualização é possível perceber como pesquisadoras(es) de diversas áreas de se valendo de conceitos, teoria, métodos e ferramentas foram alargado as aplicabilidades da Análise de Redes Sociais. Dito isso e com o uso comercial da internet, a invenção de plataformas de relacionamento on-line, como Facebook, Instagram, etc., uma aplicabilidade da Análise de Redes Sociais é utilizada por comunicólogos, cientistas políticos, sociólogos e outras(es/os) pesquisadoras(es/os) de outras áreas para compreender as relações mediadas por ferramentas digitais.
De maneira beeeem resumida uma rede (ou grafo) é formada por nós (ou vértices) e laços (ou arestas). A representação gráfica dos objetos que estabelecem conexões nas redes é um nó, e os laços representam as conexões feitas por conjunto de nós. Na ARS para mídias digitais, cada canal, perfil, página, blog, site ou hashtag é um nó e a relação consiste canais que se inscrevem em outros canais, perfis que se seguem, curtem, ainda compartilham ou mencionam.
Os conceitos são importantes para uma profissão em ascensão a de Analista de Rede Social, para quem trabalha com monitoramento de mídias ou ainda para pessoas que pretendem pesquisar as mídias digitais. Por exemplo, a definição sobre o que é um laço pode mudar completamente a interpretação da rede, já que a ARS traz técnicas que enfatizam as relações entre objetos que podem ser curtidas em uma página do Facebook, presença de hashtags, retuíte ou menções. Outro ponto importante é que as relações entre os nós podem ser Direcionadas e Não-Direcionadas.
Relações Direcionadas ou Não-direcionadas
As relações direcionadas são quando há intenção de um perfil em relação a outro. Por exemplo, compartilho no meu perfil pessoal os posts que faço na minha FanPage. Essa intenção representa a orientação da conexão e não é reciproca, pois minha FanPage não é minha amiga ou tem intenções com meu perfil.
Já as Relações Não-direcionadas acontecem em uma rede na qual a conexão entre dois atores não é orientada. Não há intenção diferentes. Seguindo exemplos da Mídia Digital Facebook eu sou amiga da Rafaela Mazzola e ela é minha amiga no Facebook. Não tem como eu ser amiga dela sem ela ser minha amiga, no Facebook. Instagram, Twitter, por exemplo, esse dado é diferente.
Para não me alongar inda mais finalizo indicando (além das referências já citadas) a leitura do capítulo: ‘Análise de redes em mídias sociais” (SILVA; STABILE, 2016). Ademais, como o volume de informações é monstruoso para lidar com ARS para Mídias Digitais, fiz um post falando sobre Softwares, Ferramentas e Plataformas para Análise de Redes Sociais Digitais.
Diferença entre Mídia Social, Rede Social e porque uso Mídia Digital
De modo geral, pessoas usam o termo “Redes Sociais” para se referirem a mídias/plataformas como Facebook, Instagram, Twitter, etc., o que gera alguns equívocos para o campo científico da Análise de Redes Sociais que apresentei acima.
As mídias sociais são espaços na internet cujo foco é o compartilhamento de informações em diversos formatos, a criação de conteúdo colaborativo e a interação social. As informações não estão mais controladas, mas pode ser adaptada conforme a plataforma e possibilita a troca. (MADEIRA; GALUCCI, 2009).
Uma distinção básica entre Mídia e Rede Social é que as redes são um segmento, uma parte das mídias sociais que tem por objetivo reunir pessoas (membros), que aderem a um perfil e, assim, expõe com fotos pessoais, textos, vídeos, e ainda interagem com outros membros, criando listas de amigos e comunidades. Têm regras próprias, adaptando o comportamento de seus membros, bem como a melhor forma de interação entre os mesmos (TELLES, 2011).
Nesse migrar da Comunicação para Sociologia aderi ao termo Mídias Digitais, pois além de sintetizar as transformações tecnológicas e sociais que redimensionam os contextos interativos não gera cacofonia com os pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Redes Sociais. Sobre o uso da expressão Mídia Digital sugiro a leitura de Miskolci (2016); Miskolci; Balieiro (2018).
Referências
HIGGINS, S. S; RIBEIRO, A. C. Análise de Redes em Ciências Socias. Brasília: Enap, 2018. [Coleção Metodologias de Pesquisa].
MADEIRA, C.; GALUCCI, L.. Mídias Sociais, Redes Sociais e sua Importância para as Empresas no Início do Século XXI. In: Anais do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2009, Curitiba
MISKOLCI, R. Sociologia Digital: notas sobre pesquisa na era da conectividade. In:Contemporânea [Revista Semestral do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar], v. 6, n. 2, p. 275–297, 2016.
MISKOLCI, R.; BALIEIRO, F. D. F. Sociologia Digital: balanço provisório e desafios. In: Revista Brasileira de Sociologia - RBS, v. 6, n. 12, 1 jan. 2018.
MORENO, Jacob. Who Shall Survive? Foundations of Sociometry, Group Psychotherapy and Sociodrama. New York: Beacon House Inc, 1978.
RECUERO, R. Introdução à análise de redes sociais. Salvador: EDUFBA, 2017. (Coleção Cibercultura):
RIBEIRO, H. V.; ALVES, L. G. A.; MARTINS, A. F; LENZI, E. K.; PERC, M. The dynamical structure of political corruption networks. In: Journal of Complex Networks, v. 6, n. 6, dez. 2018, p. 989–1003. Disponível em: https://arxiv.org/pdf/1801.01869.pdf. Doi https://doi.org/10.1093/comnet/cny002
SILVA, T; STABILE, M. Monitoramento e Pesquisa em Mídias Sociais. São Paulo: Uva Limão, 2016. .
TELLES, A. A Revolução das Mídias Sociais: Cases, conceitos, dicas e ferramentas. 2. Ed. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda, 2011.

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